28.12.10

Escritos. (I) - Lispector.



                    "(...) Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde pra você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou contar, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não ficará por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.
                    ... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu já tinha pensado que estava pronta pro rato também. Porque eu me imaginava mais forte, porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo é que eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e, então, o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque eu sou muito possessivo e então foi me perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. (...)"


                            Perdoando Deus, Felicidade Clandestina.



.E.G.
  


Um comentário:

  1. Fico com medo. Mas o coração bate.O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: Eis os limites de minha possibilidade.

    Água Viva :D

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